Ilustrado por: Acxel Pocera
Na época eu tinha 28 anos, 2 empregos, cuidava do apartamento em que morava, trabalhava cerca de 60 horas semanais e “me virava nos 30”. Eu achava que quem fazia menos do que isso é que estava errado. Sempre tive uma vida ativa, sempre gostei de esportes e academia, tomo muita água desde que entrei para a faculdade de nutrição e posso dizer que minha alimentação é considerada saudável (na maior parte do tempo). Não tenho vícios, nunca fumei em minha vida e bebo álcool raramente, em ocasiões especiais e em pequenas quantidades.
Talvez agora você pense que deve ter sido genética, porém, não tenho nenhum caso de câncer de mama na família e o teste genético que fiz no final do ano passado também deu negativo, graças a Deus, para diversos tipos de câncer. Sempre fui católica, com muita fé em Deus, e sempre tive o hábito de agradecer a Ele toda noite quando ia dormir.
Então o diagnóstico veio no dia 22/06/2022, e costumo falar que passei por três fases nesse período. Meu mundo caiu. Eu sentia que não era comigo. Que aquilo não podia estar acontecendo (primeira fase: negação). Depois eu fiquei me perguntando por muitos meses: “Por que, Deus?”, “Por que comigo?”, “O que eu fiz de errado?” (segunda fase: indignação/ raiva). Depois eu entendi quando as pessoas falam que o câncer é uma benção. É isso mesmo que você leu, vou até repetir: o câncer é uma benção (terceira fase: aceitação). E só quem passa por todo esse processo pode entender o que quero dizer com isso.
Ver a vida com novos olhos, perceber o que realmente tem importância. Trabalhar sim, ter uma ocupação é maravilhoso, mas a vida não pode ser só isso. Nós somos tão pequenos diante do mundo e das maravilhas de Deus, que é muito pequeno achar que Deus teria tempo de me “castigar” com uma doença dessas. A vida me fez ver (de uma maneira não muito sutil, é verdade) que ela é muito mais do que trabalhar, ficar preocupada o tempo todo e pagar contas. Que precisamos passar tempo com as pessoas que amamos, que Deus é maravilhoso e que tudo na vida tem um sentido, nada é por acaso.
Durante o processo, a perda do cabelo foi algo que me impactou muito, muito mais do que eu imaginava. Eu sempre tive, desde a época de adolescente, o mesmo corte de cabelo, nunca mudei a cor por medo de ficar diferente. E, de repente, eu me vi sem cabelo. Para a mulher, isso é muito mais complicado do que para o homem, e mexeu muito com minha autoestima. Eu mudei muito minha aparência nesse período de um ano, mas a real diferença foi dentro de mim.
Hoje eu amo todas as minhas versões, de uns tempos para cá já tive várias, mas sabe o que todas essas “Marinas” têm em comum? O orgulho pela mulher que eu me tornei e por cada fase que passei, com muitos choros, é verdade, mas também com muita força, fé em Deus e sempre de cabeça erguida. Amo a vida que conquistei e sigo buscando, cada vez mais, novos desafios e novas metas, com a certeza de que Deus está sempre abrindo meus caminhos e me trazendo novas oportunidades. Talvez eu descubra ainda muitas “Marinas” dentro de mim, mas espero que eu seja sempre a melhor versão de mim mesma.
Hoje estou curada e posso dizer que venci o câncer. Os médicos ainda não me falaram isso, porque os próximos cinco anos são de muito cuidado, controle e exames. Os primeiros dois anos são o período em que mais pode ocorrer a recidiva (a volta do câncer), mas eu me considero curada, porque entendi que isso tudo veio para me mostrar muita coisa e eu aprendi com isso.
Quando algo que queremos muito demora a chegar, você não deve se perguntar “Por que, Deus, está demorando tanto?”, mas sim perguntar “Meu Deus, o que eu ainda preciso aprender para que aconteça?” E é isso, quando você entende isso, TUDO muda. E é por isso que costumo dizer: O câncer foi a minha cura.
Ilustrado por: Helena Munaro Moreira
Autora: Marina Werner
(Publicado em: Julho de 2023)
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