Ilustrado por: Maria Isabel Conte Biscaro
Meu nome é Edson dos Santos de Freitas, mais um dependente químico, hoje em recuperação. Partilhar minha história de vida reforça ainda mais o meu propósito de manter-me sóbrio do álcool e de outras drogas. Lembrar do sofrimento e das oportunidades perdidas me ajuda a encarar com mais força de vontade meus desafios.
Vim de uma família humilde e batalhadora, nasci no dia 13 de outubro de 1991, na cidade de Porto Marangatú, Canindeyú, Paraguai. Sou filho de pais brasileiros que foram morar no exterior, na época, a procura de uma vida melhor. Quando eu tinha cinco anos de idade viemos para o Brasil tratar uma lesão no meu pé direito. Pela relação conturbada de meus pais, gerando uma separação, fomos morar no estado do Paraná. Sofri muito com essa decisão dos meus pais, tornando-me uma criança triste e revoltada. Matriculado em uma escola pública, era um aluno muito dedicado, tirando boas notas e elogiado pelos professores.
Mas já na adolescência, quando tinha 15 anos, minha tristeza e raiva do passado aumentaram, fazendo-me procurar alívio em amizades negativas e escolhas mal sucedidas. Iniciei, então, minha dolorosa trajetória na escuridão da adicção. Meu primeiro contato com o álcool fez com que eu esquecesse todos os meus problemas. A bebida se tornou uma amiga inseparável.
Percebi que poderia me relacionar melhor com as pessoas, já não era mais tímido, eu me sentia o máximo. Estudando, trabalhando, era um jovem cheio de sonhos, mas tudo mudou quando pela primeira vez fiz uso da minha primeira substância psicoativa, a maconha, quebrando todas as barreiras e fazendo pensar que as drogas não eram tão ruins assim.
Para resumir, abriram-se as portas para todas as outras drogas ilícitas, desde a maconha até o crack. Mesmo no auge da minha drogadição, pensava que conseguia “controlar” o uso das drogas. Mal sabia eu que tinha adquirido uma doença incurável, progressiva e fatal. Lutando com todas as forças para manter meu vício, a família e o trabalho, logo comecei a fracassar em tudo.
Minha adicção ativa trouxe comigo todos os problemas que eu jamais imaginava: depressão, angústia, ansiedade, problemas na família e pensamentos suicidas. E foi assim por 14 anos, até decidir colocar um fim na escuridão que me afligia e decidir pedir ajuda. Percebi que a fase mais difícil é admitir que precisamos de ajuda, a negação nos impede de enxergar a vida como ela realmente é.
Mas no dia 2 de março de 2021 uma luz acendeu no fim do túnel. Com a ajuda da minha família, busquei a Comunidade Terapêutica São Francisco, de Videira, onde fui bem recebido. Completei meu tratamento de 6 meses, não foi nada fácil, mas pude perceber que tinha que fazer a minha parte e ter boa vontade.
Hoje confesso que sou um homem realizado, tenho minha família, duas filhas, consegui abrir o grupo de Narcóticos Anônimos na minha cidade, Salto Veloso - SC, e o melhor, hoje trabalho na instituição que me acolheu como monitor em dependência química. Faço o trabalho com amor e gratidão, levando a mensagem de recuperação ao dependente químico que ainda sofre. Aquele vazio que sentia hoje deu lugar ao amor e à espiritualidade, e tenho a certeza de que todos os dias devo praticar os princípios da recuperação, pois sei que tenho uma doença crônica, progressiva e fatal. Acreditando no Deus da minha compreensão, praticando os 12 passos da recuperação, vou levando
mensagem ao adicto que ainda sofre para que não morra nos horrores da adicção.
“A recuperação é fácil, é só mudar tudo.” Ademar Vanz
Autor: Edson dos Santos de Freita
(Publicado em: Julho de 2023)
Ilustração de: Maria Isabel Conte Biscaro Ilustração de: Millena Eduarda Santos
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