Ilustrador(a): Bianca Di Domenico dos Santos
Minha história de superação de vida começou muito cedo, na fase da adolescência, época em que praticava esportes pelo município. Era jogador de voleibol e disputava diversos campeonatos representando o município de Fraiburgo em jogos regionais, estaduais e outros. Passei parte da minha adolescência viajando para muitas cidades e conhecendo lugares através do esporte, que me proporcionou experiências inesquecíveis.
Venho de uma família simples, de classe média baixa. Apesar das dificuldades e do excesso de trabalho, meus pais nunca deixaram faltar nada em casa: alimento, roupa e até remédios quando precisávamos. No entanto, meus desafios começaram muito cedo, na escola, pois eu apresentava dificuldades de aprendizagem. Aos dezesseis anos, após alguns anos sendo reprovado no ensino médio, abandonei os estudos e, consequentemente, deixei os esportes também. Eu já não tinha idade para disputar os campeonatos de vôlei, além disso, precisava trabalhar para contribuir para o sustento e a renda da família. Mas como nessa idade ainda não havia desenvolvido maturidade suficiente para assumir responsabilidades, abandonei diversos empregos.
Por muito tempo tentei resolver os problemas da vida, tentava alcançar meus objetivos, mas infelizmente resolvi seguir o caminho mais fácil, ou seja, o das drogas. Comecei com o uso recreativo do álcool, sem grandes problemas. Usava nos fins de semana, bebia socialmente, entre amigos ou conhecidos, mas logo também comecei a frequentar barzinhos e baladas, e cada vez mais a bebida se tornava um hábito na minha vida. Eu sabia que estava prejudicando a saúde com o uso de bebidas e cigarros de forma abusiva, mas não queria parar.
Esse hábito, em pouco tempo, tornou-se um comportamento e também passou a afetar as relações com a família e com pessoas no trabalho. O consumo de bebida estava muito frequente, e logo comecei a ter curiosidade de experimentar maconha. É preciso considerar também o fator de socialização, uma vez que havia um grupo que consumia maconha e do qual eu queria fazer parte. Comecei a usar a droga, mesmo não tendo consciência dos motivos. O uso de substâncias ilícitas agora fazia parte dos encontros e dos momentos em que frequentava ambientes sociais.
Não demorou muito também para esse uso de substâncias ir se intensificando, gastava muito tempo do dia em função das drogas e gastava muitos recursos financeiros para isso. Com o passar do tempo, depois de diversas aventuras e episódios envolvendo o álcool e a maconha, comecei a usar substâncias mais pesadas, como a cocaína associada ao uso de maconha, álcool e cigarros. Desse modo, meu comportamento com as responsabilidades da vida foram ficando em segundo plano. Já não dominava minhas escolhas e era movido por um comportamento obsessivo e compulsivo em busca de substâncias.
Em pouco tempo, questão de meses, comecei a usar drogas em mais quantidade, e também em mais dias e horários da semana. Também passei a consumir outras substâncias alucinógenas, até chegar a um ponto em que a família toda sabia desses comportamentos. Mesmo sem conseguirem me orientar, familiares tentavam me ajudar a encontrar uma forma para que eu mudasse de vida, pois cada vez mais estavam vendo a minha destruição em todas as áreas da minha vida.
Depois de longos oito anos de consumo de substâncias, aproximadamente, e depois de ter perdido o controle da minha vida em todas as áreas, no dia primeiro de junho do ano de 2016 entrei em um centro de tratamento para dependência química na cidade de Videira, SC, onde pude descobrir que tinha uma doença desenvolvida pelo uso e abuso de substâncias.
Nos primeiros dias não estava interessado no tratamento, o que queria mesmo era dar um tempo e pôr um fim àquele sofrimento pelo qual estava passando e fazendo a minha família sofrer. Mas com poucos dias de tratamento veio o desejo de mudança, que acredito ter sido uma obra divina em minha vida, a qual tenho muita devoção até hoje, o que chamamos de despertar espiritual. Encarei o tratamento através do programa da comunidade terapêutica e de pessoas que trabalhavam na instituição, que me acolheram com um amor e um respeito que eu não tinha mais encontrado em nenhum lugar. Comecei a me dedicar e a fazer o que era sugerido pela equipe técnica, que, através de tentativas, erros e enfrentamentos às dificuldades, foi me ajudando a melhorar meus hábitos e a adquirir comportamentos saudáveis que a recuperação precisa ter para que não aconteçam recaídas.
Então, em fevereiro de 2017, depois de ter passado nove meses em tratamento, retornei para minha família após um período de reinserção social. Posso dizer que me encontro em recuperação até os dias de hoje, sendo que nunca mais usei nenhum tipo de bebida alcoólica ou drogas. Como parte do processo de recuperação, completei meus estudos no ensino médio, dei início ao curso superior em Psicologia, no qual estou cursando a 5ª fase e cada vez me dedicando mais. Além disso, constituí minha família em um relacionamento conjugal, estamos juntos há 3 anos, sendo que a pessoa sabe da minha história com a dependência química e me apoia e contribui para esse meu processo de recuperação.
Desse modo, é possível considerar que, apesar de esse problema ainda prejudicar muitas pessoas, ou algumas que estão em fase inicial, é importante dizer que mesmo com todas as dificuldades e problemas que uma pessoa possa ter, EXISTE SIM UMA SAÍDA.
Ilustração de: Adrian Victor dos Santos
"Um dia de cada vez.
Só por hoje."
Autor: Wilson Ruan Cordeiro
(Publicado em: Julho de 2023)
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