Capítulo ilustrado por: Thais Caroline da Silva
Meu nome é Luciane Perazzoli, sou casada, tenho 42 anos, 3 filhos, e quero contar um pouco da minha história de vida. No início do ano de 2016 engravidei, estava realizando o grande sonho de ser mãe. Porém, jamais imaginava que aquela gestação tão planejada e desejada seria interrompida na 26ª semana.
Estava tudo indo bem na minha gestação e na 20ª semana descobri que eu ia ser mãe de uma linda menina, que se chamaria Júlia. Meu médico me pediu para fazer um exame morfológico na 22ª semana. Esse exame diagnosticou que minha bebê estava com restrição de crescimento, o peso dela estava começando a nos preocupar, pois ela não conseguia ganhar peso suficiente de acordo com as semanas que iam passando.
Durante o período das 4 semanas seguintes, minha vida “virou de pernas para o ar”. Fui afastada do trabalho para ficar de repouso, mas o inesperado aconteceu. Eu estava em casa sozinha no domingo, pois meu esposo estava trabalhando, então eu almocei e deitei no sofá para tirar um cochilo, mas levei um susto quando acordei. Estava toda inchada, meu corpo parecia irreconhecível. Avisei meu esposo que eu não me sentia bem, peguei o carro e fui até o hospital. Chegando lá o médico pediu alguns exames, que revelaram pré-eclâmpsia (pressão alta) e síndrome de hepp (doença que paralisa o fígado, rim e pulmão).
Virei uma bomba relógio, o tempo se transformou em meu inimigo. Eu precisava de uma UTI neonatal para minha bebê, e a única vaga no estado era em Joinville, mas por conta do meu diagnóstico, eu não resistiria a essa transferência. Nesse caso, os médicos escolhem salvar a vida da mãe, pois no hospital em que eu estava tinha vaga de UTI para mim. Ali nosso mundo desabou. Júlia, tão forte e guerreira, nasceu 24 horas depois que dei entrada no hospital, com 405 gramas. Ela viveu 12 minutos, era linda e tive a graça de tê-la em meus braços já sem vida, mas agradeço a ela a oportunidade de ter me dado a chance de viver.
O tempo passou, o medo sempre estava por perto, mas meu sonho de ter outro bebê era constante, então, em 2019 engravidei novamente. Com 18 semanas de gestação descobrimos que era um menino, que se chamaria Anthony Gabriel, mas ainda não sabíamos que, mais uma vez, não conseguiríamos levar nosso filho para casa. Nunca estamos preparados para as peças que a vida nos prega.
Tudo estava indo muito bem, muito tranquilo, até que com 24 semanas de gravidez fiz o exame morfológico e novamente meu bebê estava com restrição de crescimento. Começamos a correr contra o tempo, pois sabíamos o que tinha acontecido da outra vez. Procuramos médicos especialistas em outra cidade e, apesar de as notícias nunca terem sido boas, fomos persistentes e buscamos fazer de tudo o que estava ao nosso alcance. Fiquei hospitalizada em Chapecó para monitorar meu bebê, além disso, naquele
hospital tinha UTI neonatal, isso facilitaria a solicitação de uma vaga, caso o bebê precisasse nascer.
No entanto, como era final de ano, a UTI neonatal de lá ficou lotada e eu tive que ser transferida para Joinville, onde tinha vaga. O pesadelo tinha voltado. Fiz uma viagem de 6 horas de ambulância para salvar meu bebê, que ainda estava na minha barriga. Quando cheguei em Joinville foram repetidos os exames e a equipe médica decidiu realizar uma cesariana de emergência, pois a chance de meu bebê sobreviver e ganhar peso fora da minha barriga era maior. Dessa vez estava tudo certo comigo, então, no dia 24 de dezembro, com 33 semanas de gestação, noite de Natal, nosso menino veio ao mundo. Nasceu com 465 gramas, tinha os olhos azuis da cor do céu e foi diretamente para a UTI neonatal receber os cuidados necessários. Porém, no dia 25, dia de Natal, nosso menino não resistiu e faleceu. Tudo estava acontecendo novamente, nosso mundo caiu.
Nosso sonho estava ficando cada vez mais distante, o medo crescia, mas dentro do meu coração ainda havia uma pontinha de esperança. Em 2020, no começo do ano, logo após o Anthony Gabriel ter nascido, conheci uma médica especialista em reprodução humana, fiz todos os exames que ela me pediu e fui em busca da verdade para saber se eu podia engravidar ou não. Fui diagnosticada com trombose hereditária, mas para nossa felicidade, ela falou que poderíamos ter nosso bebê. Tínhamos que esperar um tempo por conta da cicatrização da cesariana, mas não podíamos esperar mais do que 1 ano, pois eu já
estava quase chegando aos 40 anos. De qualquer forma, ela disse que com o tratamento certo a gente conseguiria. Segundo ela, o bebê provavelmente nasceria prematuro, mas com peso bom, que eu não conseguiria passar das 33 semanas de gestação, porém, colocamos a situação nas mão de Deus, pois só ele tem o controle sobre nós.
Nunca tinha ouvido tantos comentários desnecessários sobre a decisão de engravidar que meu esposo e eu tínhamos tomado, mas fomos em busca do nosso sonho. E para nossa alegria, sim, conseguimos! Confesso que foi uma gestação cheia de medos e ansiedades, mas cada exame realizado era uma etapa vencida. Com 18 semanas de gestação descobrimos que era um menino a caminho e se chamaria Benício. Foram 278 injeções que eu me apliquei na barriga, 1 por dia, mas ele nasceu cheio de saúde, com 35 semanas e 6 dias de gravidez, 2 kg e 772 gramas, perfeito.
Benício hoje está com 1 ano e 3 meses, é um menino lindo, com um olhar encantador e um sorriso marcante, ele é o meu maior presente, um menino abençoado, iluminado. Por isso, cito duas frases que estão sempre presentes na minha vida: “Nunca desista do seu sonho, tudo tem seu tempo.” “Nunca foi sorte, sempre foi DEUS.”
Autora: Luciane Ceroni Perazzoli
(Publicado em: Julho de 2023)
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